quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Como Dizia o Poeta

Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não

Não há mal pior do que a descrença,
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os teus braços,
Meu irmão, deixa cair,
Pra que somar se a gente pode dividir

Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não...

Tomaso Albinoni / Toquinho / Vinícius de Moraes

https://www.youtube.com/watch?v=bcy8OaOicfY

“Alguém me gritava Com voz de profeta Que o caminho se faz Entre o alvo e a seta”

Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a ursa maior eram ferros acesos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos
Em sonhos gigantes
E a cidade vazia
Da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto

Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e´ a estrada

Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam
Em que homens negavam
O que outros erguiam
E eu bebia da vida em goles pequenos
Tropeçava no riso, abraçava venenos
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta

Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada

De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?

Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada

Pedro Abrunhosa

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Possessividades

Soletro o teu nome
devagarinho
como se de uma reza se tratasse
como se a fragilidade de que o revisto
fosse em mim a força do amor.
Digo-te em sílabas
espaçadas
impregnadas dos dias em que te leio
e das noites em que irremediavelmente te espero.
Há dentro de mim um rio
que inunda as margens e me transborda.
E enquanto te digo letra a letra
o teu nome é meu mesmo que o teu corpo não seja
mesmo que nós não sejamos donos de nada.

Margarida Piloto Garcia

O canto dos pássaros ecoa, neste silêncio que quero só meu. Cecília Vilas Boas

Eco copy

Pam Hawkes

Tua ausência cala o mundo,

o mar, os ventos.

Tua ausência desaba

silenciosamente

sobre os meus dias, soterrando

meu outono…

ela magoa demais o meu sossego.

(Tua ausência é essa substância densa)

Tua ausência é tão presente que é pessoa…

E me abraça.

Marla de Queiroz

Imagem de Pam Hawkes 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Bryan Larsen

O meu coração é uma folha de papel
com retas e curvas e espirais
de lírios carnais.
Neles repousam os beijos de borboletas
com desejos de asas incansáveis,
sonhos infindáveis.
E entre o traço do voo e o sorriso da flor,
o céu de um peito vibra no ar
do poema amar.
Angela Lopes

Imagem de Bryan Larsen

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Richard S. Johnson

Deixa-me amar-te em meus silêncios

Na calmaria do teu coração que me acolhe

E de onde se desprendem meus sonhos

Em vôos etéreos de plena liberdade

Deixa-me amar-te em minha solidão

Ainda que meus labirintos te confundam

E que teus fios generosos de compreensão

Emaranhem-se no tapete dos meus enigmas

Deixa-me amar-te sem qualquer explicação

Na ternura das tuas mãos que me sorriem

Escrevendo desejos em versos despidos

Na minha alva tez que te cobre e descobre

Deixa-me amar-te em meus segredos

Para que desvendes o que também desconheço

A alma dos meus abismos onde anoiteço

E meus olhos adormecem embalados pelo mistério

Deixa-me amar-te em tuas demoras, longas horas

Em que meu corpo se veste de céu à tua espera

E minhas mãos em frenesim acendem estrelas

Para alumiar-te, ainda que ausente estejas…

Fernanda Guimarães

Imagem de Richard S. Johnson

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Murmúrios...

Já te li!
Entre a sombra das árvores
que avisto da
minha janela,
e em teus murmúrios...
Só silêncio sinto, no respirar de mim!
Gabriela Vitória

Murmúrios

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

 

Amor

Sabes meu amor
O sol só recolhe
Quando os teus lábios deslizam nos meus
Gememos de sim não sim
O sol já nasce com paixão
Gabriela Vitória

domingo, 28 de setembro de 2014

Flores Raras

Flores Raras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Flores_Raras

Não chegas a limpar minhas lágrimas

nem ver meus cabelos

soltos a trepar nas heras dos meus sonhos,

Nem o forte palpitar do meu coração consegues ouvir quando te abraço.

Fazes da minha chegada o verbo (Partir).

Gabriela Vitória

Verbo Partir

Sentimentos que estão em gaiolas fechadas

Minhas mãos não conseguem alcançar

Quantas Harpas vou ter de tocar para teus olhos beijar

e num abraço te amar!

Faz frio na minha alma

a neve cai

e derrete devagar transformando o teu olhar em lagos gélidos.

Gabriela vitória

Sentimentos em Gaiola

Passos largos

Ando passos largos

Deixando pela estrada fora

Um desenhar de cada dia da nossa vida!

Gabriela Vitória

Passos largos

Tenho hábitos abstratos

Motivam

Sopram

Amam

No ar de paixão em Vão.

Gabriela Vitória

Hábitos

Sou um poema de defeitos!
A minha maior virtude é ser poeta.
Gabriela Vitória

Virtude

Murmúrios

Já te li!
Entre a sombra das árvores
que avisto da
minha janela,
em teus murmúrios...

Só silêncio sinto, no respirar de mim!
Gabriela Vitória

Murmúrios

 

Nunca roubo tempo a quem não tem tempo… Gabriela Vitória

Tempo

No meu jardim tem bancos e flores
Poetas que escrevem canções em batidas de amor
E eu
deitada na relva
Construo um castelo
Para nele entrar minha princesa
e amar amar sua beleza!
Gabriela Vitória

Hera

Em ti vou desfolhando o que ainda não li !
Gabriela Vitória

GV--

Entre eu e tu existe a distancia do voar dos pássaros!
Gabriela Vitória

111 (4)

Raízes

É nessas vielas
Que
Minhas raízes estão ao quadrado
Não perco controlo
Caminho
Já passei.
Gabriela Vitória

Raízes

O que escrevo minha amada
Não são poesias
São palavras soltas que bailam dentro de mim.
Gabriela Vitória

Bailam Palavras

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Guitarra

 

 

 

 

 

 

 

Guitarra

porque choras baixinho

quando os meus passos são a sombra de um desejo?

Gabriela Vitória

Pianos

Pianos resvalam pela encosta do nada!

Vi…

Não senti o teu toque.

Meus lábios rejeitaste

Meu calor enfraqueceu no teu corpo lentamente morreu.

Gabriela Vitória

Pianos

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Orquestra

 

O meu desejo não basta,
Nem as minhas ânsias fazem sombra
ao ouvir a orquestra da demora.
Gabriela Vitória

 

 

Alma

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando chove no meu corpo
E a água corre nos beirais
Minha alma estará morta, por não te ver mais.
Gabriela Vitória

Estrelas brilham

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Invisivelmente na calada da noite sou tua…
Só as estrelas brilham em nossos corpos.
Gabriela Vitória

Lua e Sol

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Se algum dia me amares!
não me digas..
Pois é tarde de mais.
Eu estarei na lua
A plantar flores
Para outro sol
Já não mais sou tua.
Gabriela Vitória

Hortenses

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tenho sede..
Não é da saliva da tua língua
Nem dos beijos que dás.
Mas sim da tua
Presença entre hortenses e cores lilás!
Gabriela Vitória

Menina gira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Menina gira
que eu despenteei
nos longos serões
na varanda do entardecer
uivam os gatos, miam os peixes
em alucinações
cachoeiras
paixões.
Gabriela Vitória

Lutar

“Queria tanto que um olhar bastasse e não fosse preciso dizer nada”

 

Bonita

Primeiro foram as mãos que me disseram
que ali havia gente de verdade
depois fugi-te pelo corpo acima
medi-te na boca a intensidade
senti que ali dentro havia um tigre
naquele repouso havia movimento
olhei-te e no sol havia pedras
parámos ambos como se parasse o tempo
parámos ambos como se parasse o tempo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
atrevi-me a mergulhar nos teus cabelos
respirando o espanto que me deras
ali havia força havia fogo
havia a memória que aprenderas
senti no corpo todo um arrepio
senti nas veias um fogo esquecido
percebemos num minuto a vida toda
sem nada te dizer ficaste ali comigo
sem nada te dizer ficaste ali comigo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
falavas de projectos e futuro
de coisas banais frivolidades
mas quando me sorriste parou tudo
problemas do mundo enormidades
senti que um rio parava e o nevoeiro
vestia nos teus dedos capa e espada
queria tanto que um olhar bastasse
e não fosse no fundo preciso
queria tanto que um olhar bastasse
e não fosse preciso dizer nada
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim pessoas

Pedro Barroso

Eterno

Quero que gostes de Pina Baush, ou até já nem gostes,
queiras mais queiras diferente;
que gostes da cor e do risco forte de Miró
e do canto desiludido e fundo de Ferré;
quero que aprecies os cheiros sensíveis da eternidade
do grande bruto grande e do pequeno sensível e pequeno;
quero que mores nas páginas da Photo e que, sendo um modelo de virtudes
representes a cortesã mais lassa para mim;
quero-te com mãos de pedra e de veludo;
quero que ames o chique e a Serra d'Aire
- mais o safari que a recepção,
quero que mores e sofras nas páginas de Guido Crepax
e que te irrites com a perfeição absoluta de um retrato de Medina
quero que, se possível vivas dentro do anúncio do Martini
felina e ondulante numa ilha tropical
quero que sejas capaz de divertir-te, de soltar uma ampla gargalhada,
ante o espectáculo ridículo e obsceno de um homem de Quinhentos
a quem atribuíssem um número de contribuinte
quero que ames o longe e a miragem, como o Régio
e que sejas louca e sábia
que tenhas lábios e mordas,
língua e sorvas, sexo e sexes, salto e salto, riso e rias,
sorvedouro inteiro de vida, arrepio de garça, sacudir de cisne,
passos de corsa, graça de arlequim,
pose de Diva, corpo de areia e luz.
E quero que me dês, me dês muito, que me dês tudo,
e que abras as janelas de par em par ao Tejo
e fecundes um poema em cada gesto
e voes como a gaivota em cada espreguiçar
e partas para a Índia em cada cacilheiro
e que sejas, mores, vivas e creias
longe
muito longe daqui...
quero que sejas profundamente minha e ritual
obsessiva e lúcida, doente, febril, tremendo de desejo
disposta a tudo e a mais e a muito mais,
boca de Mundo, seios de Mármore, corpo de Alfazema
e sobretudo Mulher e sobretudo amante.
Se existires assim, nua, inteira, absoluta e pessoal
responde-me
que eu fico aqui, eterno, à tua espera.

Pedro Barroso

Alberto Caeiro [F.Pessoa] :: Se eu pudesse trincar a terra toda / Dito por Pedro Lamares

Fernando Pessoa :: A morte é a curva da estrada / Dito por Natália Luiza

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Num nevoeiro cerrado
atravesso o rio
no meu barco cheio de flores
chocolates
romãs e amor
remo até ao teu olhar
ao avistar tuas mãos a brilhar na água
em que nos vamos banhar
meu remar não tem fim só começo!
Gabriela Vitória

Navegar

Talvez não apareças

Senta-te aqui a ver o tempo passar

E a lua a clarear

Talvez não apareças

Mas

O banco vai ficar

eu vou partir para outro lugar

Gabriela Vitória

Terço

Terço

Minha fé não sabe rezar

Minha alma sabe contemplar

A paz é divina

Luz é o que sinto

Com Deus nos meus labirintos

Gabriela Vitória

domingo, 21 de setembro de 2014

Palavras de Outono

 

 

 

 

 

 

 

Pelas ruas das palavras

Vai chegar o outono

Folhas que sobrevoam sobre

O meu caminhar

No meu regaço carrego todas

As palavras que vou plantar

Sem regresso! Amar…

Gabriela Vitória

Rebelde é o meu corpo

Rebelde é o meu corpo
quando tua nuca fica febril nos meus lábios
Rebelde são meus pensamentos
imaginando
carinhosamente
quando não estás.
Gabriela Vitória

Rebelde

domingo, 7 de setembro de 2014

 

Pomba Solitária

Esta noite choveu muito
Nas pedras da minha rua
Depois vi nelas a sombra
Que me parecia ser a tua
Esperei que subisses as escadas
Mas teus passos não ouvi
Lá fora nas pedras molhadas
Pareciam chorar chorar por ti
Não pisaste mais as pedras
As pedras da rua
Hoje piso-as sem saber
Se ainda sou tua
Eu e elas não te vemos
Meu amor há mais de um mês
Volta amor volta a pisar
Estas pedras outra vez
O candeeiro da esquina
E até mesmo a luz da lua
Não viram mais tua sombra
Nas pedras da minha rua
Quando chove como hoje
E as pedras estão a brilhar
Eu vejo os meus olhos nelas
Já tão cansados de tanto esperar
Não pisaste mais as pedras
As pedras da rua
Hoje piso-as sem saber
Se ainda sou tua
Eu e elas não te vemos
Meu amor há mais de um mês
Volta amor volta a pisar
Estas pedras outra vez
Eu e elas não te vemos
Meu amor há mais de um mês
Volta amor volta a pisar
Estas pedras outra vez
EDUARDO DAMAS / MANUEL PAIÃO

https://www.youtube.com/watch?v=tBBSXytoNUw

 

Talvez

TALVEZ DIGAS UM DIA O QUE ME QUERES,
TALVEZ NÃO QUEIRAS AFINAL DIZÊ-LO,
TALVEZ PASSES A MÃO NO MEU CABELO,
TALVEZ NÃO PENSE EM TI TALVEZ ME ESPERES.
TALVEZ, SENDO ISTO ASSIM, FOSSE MELHOR
FALHAR-SE O NOSSO ENCONTRO POR UM TRIZ,
TALVEZ NÃO ME AFAGASSES COMO EU QUIS,
TALVEZ NÃO NOS SOUBÉSSEMOS DE COR.
MAS NÃO SEI BEM, RESPOSTAS NÃO MAS DÊS.
VIVO SÓ DE MURMÚRIOS REPETIDOS,
DE ENGANOS DE ALMA E FOME DOS SENTIDOS,
TALVEZ SEJA CRUEL, TALVEZ, TALVEZ.
SE NADA DÁS, PORÉM, NADA TE DOU
NESTE VAIVÉM QUE SEMPRE NOS SUSTENTA,
E SE A PRÓPRIA SAUDADE NOS INVENTA,
NÃO SEI TALVEZ QUEM ÉS MAS SEI QUEM SOU.

VASCO GRAÇA MOURA / MÁRIO PACHECO

https://www.youtube.com/watch?v=n0jWIAB2gE8

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

 

Canção de Paixão

Ela chegou sem avisar
entrou, em silêncio para não acordar
esperando por ela estava com desejo de a amar
beijar seus seio até arrepiar
em seu corpo entrar
seus lábios beijar sua língua cruzar ...
minhas mãos em seu corpo suado passar…
nossos corpos em música se transformou
com cânticos de sereias nos embalou
chuva de prata as flores contemplou
deslizou dos nossos cabelos e em longas planícies brilhou!
Gaya * Gabriela Vitória

 

Imagem de Soraia SF (2)

https://www.youtube.com/watch?v=u9_aB-3S1Pc

Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim...
Muita história
Eu tinha prá contar
Pavão misterioso
Nessa cauda
Aberta em leque
Me guarda moleque
De eterno brincar
Me poupa do vexame
De morrer tão moço
Muita coisa ainda
Quero olhar
Pavão misterioso
Meu pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar
Pavão misterioso
Meu pássaro formoso
No escuro dessa noite
Me ajuda a cantar
Derrama essas faíscas
Despeja esse trovão
Desmancha isso tudo
Que não é certo ou não
Pavão misterioso
Pássaro formoso
Um conde raivoso
Não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos
Mas não podem voar
Eles são muitos
Mas não podem voar
Ednardo

 

Amy Judd

Não sou pra todos. Gosto muito do meu mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às vezes tem um céu azul, outras tempestade. Lá dentro cabem sonhos de todos os tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não estão por acaso. São necessárias.
Caio Fernando Abreu

Imagem de Amy Judd

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

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A paz que sinto é tanta... que não há guerra que me vença
As batalhas são agora para mim, apenas... atalhos que evito
não por cobardia mas por preferir os caminhos amplos com luz!
VónyFerreira

sábado, 16 de agosto de 2014

Serge Marshennikov
Foi depressa que devagar nos percorremos,
Foi devagar que depressa corremos o nosso corpo,
Cobrindo-nos da felicidade
Que ia caindo como fiapos de acalento,
Dos meus e dos teus dedos…

Ah, não somos capazes de mais,
A não ser gotejar anseios
Para enobrecer os gestos
Com que nos saciaremos,
Logo mais,
Quando de novo nos inventarmos!
Pensemos no bem-querer que teremos
Quando demorar a vontade,
Que pinga, em nós, açucarada

Sobrevoemos o prazer de estarmos,
De sentir o calor da arena da pele,
E então, sim,
Surpreendamo-nos com a extravagância:

Será depressa que devagar nos percorreremos
Será demorada a pressa de nos invadirmos,
Mas será tão notável o prazer que sempre teremos,
Quer seja ontem,
Quer seja hoje,
Ou amanhã,
De esvoaçar sobre o diadema do nosso desejo.

Cristina Miranda

Imagem de Serge Marshennikov

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

De ti só quero o cheiro dos lilases
e a sedução das coisas que não dizes
De ti só quero os gestos que não fazes
e a tua voz de sombras e matizes
De ti só quero o riso que não ouço
quando não digo os versos que compus
De ti só quero a veia do pescoço
vampira que já sou da tua luz
De ti só quero as rosas amarelas
que há nos teus olhos cor das ventanias
De ti só quero um sopro nas janelas
da casa abandonada dos meus dias
De ti só quero o eco do teu nome
e um gosto que não sei de mar e mel
De ti só quero o pão da minha fome
mendiga que já sou da tua pele

Rosa Lobato de Faria

Gosto quando me falas de ti

Karen Hollingsworth (20)

Gosto quando me falas de ti e te vou percorrendo
e vou descortinando a tua vida na paisagem sem nuvens,
cenário dos meus desejos tranquilos.
Gosto quando me falas de ti e então percebo
que antes mesmo de chegar, me adivinhas,
que ninguém te tocou, senão o vento
que não deixa vestígios, e se vai
desfeito em carícias vãs…
Gosto quando me falas de ti quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra, e eu só te encontro
e te reencontro em teus lábios, apenas pintados,
maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.
Gosto quando me falas de ti e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas a tua alma, sem dobras, como um lençol
distendido, e descortino o teu destino, como um caminho certo, cuja
primeira curva
foi o nosso encontro.
Gosto quando me falas de ti porque percebo que te desnudas
como uma criança, sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrola inútil como um novelo
que nos cai no chão…

J.G. de Araújo Jorge

Imagem de Karen Hollingsworth

Karen Hollingsworth (2)

Ouço-te num qualquer outro registo de dança
Onde pensares e sentires são devolvidos em contracapa
Nua, de cor única e vazia de espelhos

Olho-te e não te vejo
Só os esboços estudados da dança
Permanecem em meus ouvidos como inconstância
De desafios musicados
E de suspiros
E de muros levantados
E de búzios fendidos
Por onde se escapa o que nem a brisa alcança

Olho-te por entre o arvoredo de um mar salgado
Agitando formas de cotovelos apoiados nas águas
Numa outra de mim que o registo fez parte
Quando fendiam as paredes da casa
Agora brancas, imaculadas
Pelo silêncio sorridente e ameno das asas
Que descubro serenamente e destapo
Nas cores luzentes das sonoridades
Que enfeitam e alegram o espaço
No repouso cantante, suave
Do regaço que eleva e embala

Fátima Fernandes

Imagem de Karen Hollingsworth

domingo, 6 de julho de 2014

Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. Vinicius de Moraes

 

Adivinhas-me

 

Julia Calçada

Sussurro-te uma frase inacabada
E tu desvendas no meu olhar,
Todo o restante mistério.

Adivinhas-me,
Por entre os dedos que te tocam
E que te escrevem.

E te descrevem…

Adivinhas-me,
Como adivinhas a melodia
Dos fios do meu cabelo,
Soltos numa brisa suave ao teu olhar.

Adivinhas-me,
O arrepio na pele
Quando percorres com as pontas dos dedos,
Os lábios que te beijam em silêncio.

E num sopro de um só sentimento,
Aprendeste a amar(me)
Como ninguém.

Daniela S. Pereira

Imagem de Julia Calçada

Karen Hollingsworth (19)

SUA...
Porque foi você que me fez redescobrir
Foi você que me levou por caminhos de sol
Foi você que me aqueceu na chuva
Foi você que desenhou meu melhor sorriso
Sua......
Porque foi seu corpo que se fez abrigo
Foi seu ombro o travesseiro amigo
Foi seu rosto o espelho da alma
Sua...
Por me fazer calma
Por me deixar louca
Por me emudecer
Por me fazer respirar melhor...
Sua...
Por tudo
Por nada
Por ser
Sentir
Emergir
Olhar o infinito e saber que posso voar mais uma vez...
(Tereza Maria Caarneiro)

Imagem de Karen Hollingsworth

domingo, 8 de junho de 2014

 

Andrei Belichenko and Maria Boohtiyarova  008

Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma? …
Anda a saudade do teu corpo (sentes? .. )...
Sempre comigo: deita-se ao meu lado
dizendo e redizendo que não mentes
quando me escreves: «vem, meu todo amado … »
É o teu corpo em sombra esta saudade …
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios- sombra:
a luz do seu olhar é escuridade …
Fecho os olhos ao sol para estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra …
Vês?! A saudade é um escultor antigo!
António Patrício

Imagem de Andrei Belichenko

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Gotas

Chovo
sentada dentro de mim.
Foste e contigo a tua pele
que me secava as lágrimas de silêncio.
Contigo foram as mãos, o abraço,
o beijo lavado e inteiro.
Da minha gruta já é doloroso sair.
Os meus olhos, outrora largos,
apertam-se para fugir à chama agressiva.
Estou fria e desabitada.
Vem.
Aqui o tempo partiu do tempo.
Só tu podes consertar os ponteiros despedaçados da
memória.
Contigo os ventos virão
e as aves que tinham desistido,
vão nidificar de novo no meu colo.

Lília Tavares

 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Carsten Witte-5

Encostei-me a ti,

sabendo que eras somente onda.

Sabendo bem que eras nuvem

depus a minha vida em ti.

Como sabia bem tudo isso,

e dei-me ao teu destino frágil,

fiquei sem poder chorar,

quando caí.

Cecília Meirelles

Imagem de Carsten Witte

 

Dorina Costras 

 Estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio...
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.

José Luís Peixoto

Imagem de Dorina Costras

Diário

Não é o restolhar do vento.
É a tua lembrança
que se ergue em mim.

Não é a rosa do sol a esfolhar-se.
É a minha boca -sede e romã-
que sangra na tarde.

Não é a noite que desce.
É a sombra dos teus olhos
a fechar o horizonte.

Luísa Dacosta