domingo, 23 de março de 2014

CHOREI…

 

flores do Espaço

Dói-me o peito!
Lágrimas contidas fustigam meu rosto
Estou sem forças
Exausta...
Estupidamente cansada
Nem o sonho me leva deste sofrimento
Deste vazio
Deste silêncio…
Tropecei
Caí na escuridão da minha alma
Derrubei o meu saber sentir
Mutilei as asas que me deixavam voar
Lancei ao mar a minha força
A coragem
A bravura
A racionalidade
A eternidade…
Deixo-me afogar pelo sentimento
Chorar
Gritar ao vento
A dor que existe…
Sinto o vazio por entre as mãos
Endurecido
Acutilante
Gritante…
Perdi-me
Na tempestade dos meus afectos
O mar inundou o meu corpo
Senti o frio glaciar
Não resisti
Tropecei
Chorei…
Ana Gonçalves

Explodir

Esgota-se o tempo de cada vez que te espero na esquina mais escura de mim
Esgota-se o tempo esgota-se-me a vontade

esgota-se-me essa verdade que não sai da minha boca

E é apenas uma saudade doída gemida e louca

que se atreve a esperar ainda por ti
mesmo quando todos os silêncios já se foram

e todas as lágrimas já secaram!...

São Reis

Partilhamos Amor

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego…
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece…
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente…

Fernando Pessoa

Tenho tanto sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

Sonho

sábado, 22 de março de 2014

 

Lembro-me de quando era criança e via,
como hoje não posso ver,
a manhã raiar sobre a cidade.
Ela não raiava para mim,
mas para a vida.
Porque então eu, (não sendo consciente)
eu era a vida.
E via a manhã e tinha alegria.
Hoje venho a manhã, tenho alegria,
e fico triste.
Eu vejo como via,
mas por trás dos olhos, vejo-me vendo,
E só com isso, se obscurece o sol,
O verde das árvores é velho,
E as flores murcham antes de aparecidas."

"Eu agi sempre,
Eu agi sempre para dentro.
Eu nunca toquei na vida.
Nunca soube como se amava…
Apenas soube como sonhava amar.
Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos,
É que às vezes eu queria julgar que as minhas mãos eram de princesa,
Gostava de ver a minha face refletida,
Porque podia sonhar que era a face de outra criatura."


"Eu tenho uma espécie de dever, de dever de sonhar
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que uma espectadora de mim mesma,
Eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso,
E assim me construo a ouro e sedas,
em salas supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho entre
luzes brandas
e músicas invisíveis."


"Eu quero um colo, um berço
Um braço quente em torno ao meu pescoço
Uma voz que cante baixo
E pareça querer me fazer chorar.
Eu quero um calor no inverno
Um extravio morno da minha consciência
E depois sem som
Um sonho calmo
Um espaço enorme
Como a lua rodando entre as estrelas.

Extraído do Livro do "Desassossego" – Fernando Pessoa

Marta Bessa-5

Os rios que eu encontro
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.

João Cabral de Melo Neto

Imagem de Marta Bessa

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.

Ferreira Gullar

Mapa

 

 

Liberte-se

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Chavela_Vargas

sábado, 8 de março de 2014

TODOS OS DIAS

 

Vadim Trunov

Hoje é dia da Mulher.

Ontem foi dia da Mulher.

Amanhã

será dia da Mulher.

Enquanto houver dias.

Enquanto

houver Mulheres.

Joaquim Pessoa

Imagem de Vadim Trunov

quarta-feira, 5 de março de 2014

 

limite

Um dia perguntei ao tempo!
Quanto tempo faltava para te ver?
O tempo respondeu, que o tempo não tem tempo para responder
está apressado para ir ver seu amor
que não tem tempo para esperar
deve correr sem para traz olhar ...
porque o tempo passa e não damos conta do que fica para traz
vive o melhor da vida,
ama com loucura e entrega-te ao prazer
o tempo passa a correr

Soraya Silva

segunda-feira, 3 de março de 2014

Marta Bessa-4

E se...

E se eu me apaixonasse...

E se de repente o mundo mudasse de cor...

E se você me visse com outros olhos...

E se conseguisse desvendar meus medos e meus segredos...

E se a vida ditasse seu curso, eu apenas me deixasse levar por ela...

E se mudasse o curso, e eu apenas me deixasse chegar...

E se o beijo tivesse sabor de cajarana madura...

E se o amor fosse feito de cores, sabores e cheiros... Apenas isso...

E se a verdade fosse dita, nas mais variadas mentiras proferidas...

E se tudo não passasse de um sonho...

E se esse sonho fosse real e não imaginário...

E se eu fosse apenas mais um no limiar da vida...

E se... Esse si não existisse mais e restasse apenas uma simbologia diagnóstica...

E se... Ainda assim existisse a esperança desse si...

Apaixonasse mudar o mundo, viver os medos, desvendar segredos, se deixar levar, amadurecer os frutos, embriagar nos sabores, fazer de conta, esperar o inesperado, e viver apenas e tão somente a esperança.

Se... Se...Se...

Riz Silva – 24.01.2014.

Imagem da Marta Bessa

Aconteceu

Não lhe direi tenho saudades,

Pois a saudade é efêmera...

Não lhe direi te amo,

Pois o amor é incerto...

Não lhe direi te quero,

Pois o querer tem vertente...

Apenas lhe direi, seja Feliz...

E, para sempre...

Rizeuda