terça-feira, 24 de junho de 2014
domingo, 8 de junho de 2014
Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma? …
Anda a saudade do teu corpo (sentes? .. )...
Sempre comigo: deita-se ao meu lado
dizendo e redizendo que não mentes
quando me escreves: «vem, meu todo amado … »
É o teu corpo em sombra esta saudade …
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios- sombra:
a luz do seu olhar é escuridade …
Fecho os olhos ao sol para estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra …
Vês?! A saudade é um escultor antigo!
António Patrício
Imagem de Andrei Belichenko
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Chovo
sentada dentro de mim.
Foste e contigo a tua pele
que me secava as lágrimas de silêncio.
Contigo foram as mãos, o abraço,
o beijo lavado e inteiro.
Da minha gruta já é doloroso sair.
Os meus olhos, outrora largos,
apertam-se para fugir à chama agressiva.
Estou fria e desabitada.
Vem.
Aqui o tempo partiu do tempo.
Só tu podes consertar os ponteiros despedaçados da
memória.
Contigo os ventos virão
e as aves que tinham desistido,
vão nidificar de novo no meu colo.
Lília Tavares
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio...
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
José Luís Peixoto
Imagem de Dorina Costras
Falei de ti com as palavras mais limpas
Viajei, sem que soubesses, no teu interior.
Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres,
tropeçavas em mim e eu era uma sombra
ali posta para não reparares em mim.
Andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada.
Em tudo o mais usei da parcimónia
a que me forçava aquele ardor exclusivo.
Hoje os versos são para entenderes.
Reparto contigo um óleo inesgotável
que trouxe escondido aceso na minha lâmpada
brilhando, sem que soubesses, por tudo o que fazias.
Fernando Assis Pacheco
Imagem de Carsten Witte
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,...
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José Régio
Imagem de Carsten Witte