quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Como Dizia o Poeta

Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não

Não há mal pior do que a descrença,
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os teus braços,
Meu irmão, deixa cair,
Pra que somar se a gente pode dividir

Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não...

Tomaso Albinoni / Toquinho / Vinícius de Moraes

https://www.youtube.com/watch?v=bcy8OaOicfY

“Alguém me gritava Com voz de profeta Que o caminho se faz Entre o alvo e a seta”

Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a ursa maior eram ferros acesos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos
Em sonhos gigantes
E a cidade vazia
Da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto

Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e´ a estrada

Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam
Em que homens negavam
O que outros erguiam
E eu bebia da vida em goles pequenos
Tropeçava no riso, abraçava venenos
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta

Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada

De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?

Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
Quem me diz onde é a estrada?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me leva os meus fantasmas?
Quem me salva desta espada?
E me diz onde e a estrada

Pedro Abrunhosa

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Possessividades

Soletro o teu nome
devagarinho
como se de uma reza se tratasse
como se a fragilidade de que o revisto
fosse em mim a força do amor.
Digo-te em sílabas
espaçadas
impregnadas dos dias em que te leio
e das noites em que irremediavelmente te espero.
Há dentro de mim um rio
que inunda as margens e me transborda.
E enquanto te digo letra a letra
o teu nome é meu mesmo que o teu corpo não seja
mesmo que nós não sejamos donos de nada.

Margarida Piloto Garcia

O canto dos pássaros ecoa, neste silêncio que quero só meu. Cecília Vilas Boas

Eco copy

Pam Hawkes

Tua ausência cala o mundo,

o mar, os ventos.

Tua ausência desaba

silenciosamente

sobre os meus dias, soterrando

meu outono…

ela magoa demais o meu sossego.

(Tua ausência é essa substância densa)

Tua ausência é tão presente que é pessoa…

E me abraça.

Marla de Queiroz

Imagem de Pam Hawkes