domingo, 18 de novembro de 2012

É vulgar as pessoas não prestarem atenção

Claude Theberge - 1

É vulgar as pessoas não prestarem atenção à chuva no inverno, ao calor no verão, às andorinhas na primavera, às árvores despidas no outono, ao pinheiro no natal, à neve na montanha, ao luar na noite, e do mesmo modo às palavras que o poeta infatigavelmente proferia todas as manhãs, porque tudo aquilo que é natural as pessoas tendem a desprezar sem sequer reflectir; apartando-se assim da vida, da felicidade, e enfim descobrindo a mera sobrevivência e a mediocridade.
Um dia isso mudo

Diogo Da Costa Ferreira

Imagem de Claude Theberge

“O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.”

 

Os Três Mal-Amados
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
João Cabral de Melo Neto

 

“O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas”

sábado, 17 de novembro de 2012

Para Viver um Grande Amor

Evgeny Mukovnin

É preciso abrir todas as portas que fecham o coração.

Quebrar barreiras construídas ao longo do tempo,

Por amores do passado que foram em vão

É preciso muita renúncia em ser e mudança no pensar.

É preciso não esquecer que ninguém vem perfeito para nós!

É preciso ver o outro com os olhos da alma e se deixar cativar!

É preciso renunciar ao que não agrada ao seu amor...

Par

a que se moldem um ao outro como se molda uma escultura,

Aparando as arestas que podem machucar.

É como lapidar um diamante bruto...para fazê-lo brilhar!

E quando decidir que chegou a sua hora de amar,

Lembre-se que é preciso haver identificação de almas!

De gostos, de gestos, de pele...

No modo de sentir e de pensar!

É preciso ver a luz iluminar a aura,

Dando uma chance para que o amor te encontre

Na suavidade morna de uma noite calma...

É preciso se entregar de corpo e alma!

É preciso ter dentro do coração um sonho

Que se acalenta no desejo de: amar e ser amada!

É preciso conhecer no outro o ser tão procurado!

É preciso conquistar e se deixar seduzir...

Entrar no jogo da sedução e deixar fluir!

Amar com emoção para se saber sentir

A sensação do momento em que o amor te devora!

E quando você estiver vivendo no clímax dessa paixão,

Que sinta que essa foi a melhor de suas escolhas!

Que foi seu grande desafio... e o passo mais acertado

De todos os caminhos de sua vida trilhados!

Mas se assim não for...

Que nunca te arrependas pelo amor dado!

Faz parte da vida arriscar-se por um sonho...

Porque se não fosse assim, nunca teríamos sonhado!

Mas, antes de tudo, que você saiba que tem aliado.

Ele se chama TEMPO... seu melhor amigo.

Só ele pode dar todas as certezas do amanhã...

A certeza que... realmente você amou.

A certeza que... realmente você foi amada."

Carlos Drummond de Andrade

Imagem de Evgeny Mukovnin

Habita-me

 

Alexandra Nedzvetskaya-4

Povoa-me no outono!!

habita-me

Na primavera!!

Invade-me no momento em que pensas em mim.

Gabriela Vitória

Imagem de Alexandra Nedzvetskaya

terça-feira, 13 de novembro de 2012

“Aconteceu quando a gente não esperava Aconteceu sem um sino pra tocar Aconteceu diferente das histórias Que os romances e a memória Têm costume de contar Aconteceu sem que o chão tivesse estrelas Aconteceu sem um raio de luar O nosso amor foi chegando de mansinho Se espalhou devagarinho Foi ficando até ficar Aconteceu sem que o mundo agradecesse Sem que rosas florescessem Sem um canto de louvor Aconteceu sem que houvesse nenhum drama Só o tempo fez a cama Como em todo grande amor”

“O nosso amor foi chegando de mansinho Se espalhou devagarinho Foi ficando até ficar”

“É o Amor...que mexe com minha cabeça e me Deixa assim.. que faz eu pensar em você e esquecer de mim que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver”

“eu sou o seu apaixonado de alma transparente”

Eu não vou negar..que sou louco por você

Estou maluco pra lhe ver...Eu não Vou negar...

Eu não vou negar sem você tudo é saudade

você traz felicidade..Eu não Vou negar..

Eu não vou negar..você é meu doce mel..

meu pedacinho de céu..

eu não vou negar!!

Você é minha doce amada..Minha alegria!

meu conto de fada..minha fantasia..!

a paz que eu preciso para sobreviver.,.

eu sou o seu apaixonado de alma transparente..

louco alucinado..meio inconsequente

um caso complicado de se entender..

É o Amor...que mexe com minha cabeça e me deixa assim..

que faz eu pensar em você e esquecer de mim

que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver..

É o amor..que veio como um tiro certo no meu coração

e derrubou a base forte da minha Paixão

e fez eu entender que a vida é nada..sem você..

Eu não vou negar..você é meu doce mel..

meu pedacinho de céu..

eu não vou negar!!

Você é minha doce amada..Minha alegria!

meu conto de fada..minha fantasia..!

a paz que eu preciso para sobreviver.,.

eu sou o seu apaixonado de alma transparente..

louco alucinado..meio inconsequente

um caso complicado de se entender..

É o Amor...que mexe com minha cabeça e me Deixa assim..

que faz eu pensar em você e esquecer de mim

que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver..

É o amor..que veio com um tiro certo no meu coração

e derrubou a base forte da minha Paixão

e me fez entender que a vida é nada..sem você..

Zezé Di Camargo / Carlos Cezar

domingo, 11 de novembro de 2012

A BELEZA EM CADA SER É UMA ALEGRIA ETERNA

"A beleza em cada ser é uma alegria eterna:
o seu encanto torna-se maior e nunca se há-de perder
no nada; reservar-nos-á ainda um refúgio
de paz, onde adormeceremos, habitados por sonhos
suaves, uma íntima plenitude, uma respiração branda.
Comecemos, assim, a tecer em cada manhã
uma grinalda de flores para nos unirmos à terra,
apesar do desalento, da aus...ência daqueles
cuja nobreza amávamos, dos dias cheios de escuridão,
de todos os caminhos insalubres e misteriosos,
abertos para os nossos anseios; sim, apesar de tudo,
uma forma de beleza afasta o sudário
das nossas almas sombrias. Assim é o sol, a lua,
as antigas ou novas árvores cuja bênção faz germinar
a sombra sobre os humildes rebanhos; os narcisos
e o mundo verdejante que os cerca; e os límpidos rios
que para si criam um dossel de frescura
durante as estações ardentes; os silvados do bosque
enriquecidos pelo belo, nascente esplendor das rosas;
e, também, a magnificência do destino
que imaginamos para os mortos poderosos;
e as histórias encantadoras que lemos ou escutamos:
fonte inesgotável duma imortal bebida,
que vem do limiar do céu e para nós se derrama.
E não é apenas durante algumas horas breves
que ficamos presos a estas essências; assim como as árvores
murmurando à volta dum templo logo se tornam
tão amadas como o próprio templo, também a lua
e a paixão da poesia, glórias infinitas, tantas vezes
nos assombram, até serem uma luz vivificadora
para a alma, e tão estreitamente nos cingem
que, fique a brilhar o sol ou se apaguem os céus,
para sempre hão-de existir em nós, ou morreremos."


John Keats, in "Poesia Romântica Inglesa", Relógio D'Água, 1992 (trad. Fernando Guimarães)

 

Eu Quero Ser Possuída Por Você

Eu quero se possuída por você

pelo seu corpo

pela sua proteção

pelo seu sangue

me ama

eu quero que você me ame

e fique eternamente me amando

dentro de mim

com sua carne e seu amor

eternamente infinitamente

dentro de mim

me envolvendo me decifrando

me consumindo me revelando

como numa tarde dentro do elevador

no verão voltando da praia

e você me abraçou

e eu te abracei

e quanto mais eu me entregava

mais nascia meu desejo

mais sobrava só o desejo

e mais eu te queria sem palavras

sem pensamentos

a vida inteira resumida só no desejo

da tua boca dizendo o meu nome

da tua mão conduzindo a minha mão

do teu corpo revelando o meu corpo

como se o mundo fosse

pela primeira vez

José Vicente

“Eu quero que você me ame e fique eternamente me amando dentro de mim.”

Ainda ficou um pouco de teu cabelo no travesseiro


Kay Boyce-1

 

 

 

 

 

Ainda ficou um pouco
de teu cabelo no travesseiro
de teu corpo no meu corpo
de teu cheiro
um pouco da tua colônia
em alguns vestidos meus
ficou no meu cotidiano
um gosto bobo de adeus.
Ficou um resto de shampoo
no teu frasco no banheiro
de tudo ficou um pouco
de teu jeito, de teu cheiro.
Ficaram umas coisas tuas
espalhadas pelo quarto.
Ficou teu riso marcado
na moldura no retrato.
Em tudo ficou um pouco.
Ficou nosso jogo de damas
(eu branco, você preto)
intacto no sofá-cama.
Alguns discos teus, alguns livros
na parede atrás da porta
a gravura de Dalí
e tua natureza morta.
Um pouco de teu silêncio
se espalhou pela casa
tua xícara de porcelana
verde e branca, sem a asa.
De você ficou um pouco
do trem daquela viagem
do nosso jantar chinês
da nossa camaradagem.
Ainda ficou tua letra
em alguns papéis amassados.
Em tudo ficou um pouco
na rua, no supermencado.
Ficou um pouco de você
no mar, no rio, na serra
na estrada da casa de campo
na pedra, no gato, na terra.
Ficou um pouco do teu rosto
no rosto dos meus amigos
ficaram palavras tuas
em tudo aquilo que digo.
Eu fiquei com o teu jeito
de querer falar primeiro
teu corpo no meu corpo
cabelo no travesseiro.

Bruna Lombardi

Imagem de Kay Boyce

Desígnios

Johnny Palacios Hidalgo-1

Alguém pode me dizer
se estava prevista na palma da minha mão
esta paixão inesperada
se estava já escrita e demarcada
na linha da minha vida
se fazia já parte da estrada
e tinha que ser vivida
ou foi um desgoverno repentino
que surpreendeu os deuses, todos
os que desenham o nosso destino
ou foi um desatino, uma loucura
uma imprevisível subversão
que só a patir de agora eu trago marcada
na palma da minha mão"

Bruna Lombardi

Imagem de ohnny Palacios Hidalgo

POSSE INTEMPORAL

Johnny Palacios Hidalgo-3

Fazer amor contigo

não é espelhar teu corpo nu

no vítreo do meu espaço

não é sentir-me possuída

ou possuir-te

É ir buscar-te

ao abismo de milênios de existência

e trazer-te livre

Manuela Amaral

Imagem de Johnny Palacios Hidalgo

Percorro a calçada fria da cidade

C P

Percorro a calçada fria da cidade. As ruas alinhadas, as esquinas da espera.

Revejo-me em olhares, em gestos, em sons.

Perco-me nas gargalhadas que oiço, nos sussurros que sonho. Imagino serem aquelas as minhas mãos, ser meu o corpo que abraça.

Oiço o apelo da cidade e deixo-me ir. Há muito que a amo, há muito que a sinto em mim.

Nas janelas, as gotas da chuva demoram-se chamando para o interior quem nelas se reflete. Cá fora cruzam-se vidas em busca de um reflexo…

O relógio marca um tempo já longo e o frio anuncia o chegar da noite. A cidade veste-se de inverno, veste-se de esperança. Em cada esquina partilham-se vidas. Partilham-se sonhos.

Tinhas saudades tuas. Saudades de me perder em ti. Gosto de voltar e saber que manténs o sorriso, que nada mudou entre nós…

Minha Estrela

“Dicono che c'è un tempo per seminare e uno più lungo per aspettare io dico che c'era un tempo sognato che bisognava sognare”

sábado, 10 de novembro de 2012

Sem memória não há aprendizagem de Paola Gentile

 

Romel de la Torre-1

 

 

 

                                                                                                                                                                                                                                                                                Imagem de Romel de la Torre

Ilustrações de Ana Luiza de Paula

“Tem palavra que eu não pronuncio que não estão de acordo com as minhas crenças.”…. Maria Bethânia

“Folhas de mil árvores feitas uma pede chuva chora chuva e vai cantando essa água”
“Nas águas do Velho Chico, da nascente à foz, correm mitos e lendas”
“Mergulham em meus olhos Barrancos, carrancas, paisagens Francisco, Francisco Tantas águas corridas Lágrimas escorridas, despedidas saudades”

“Recebe essa flor Mãe de todo amor Ó digna, digna Maria Faze que no céu Possamos sem véu Te contemplar algum dia Cantar com alegria O teu amor O teu amor Em celeste harmonia”

Anne Teresa de Keersmaeker

Anne Teresa de Keersmaeker-2

 

 

       

 

 

Anne Teresa de Keersmaeker-1Anne Teresa, Baroness De Keersmaeker (born 1960 in Mechelen, Belgium, grew up in Wemmel) is one of the most prominent choreographers in contemporary dance. The dance company constructed around her, Rosas, was in residence at La Monnaie in Brussels from 1992 to 2007. Fonte:

 

Anne Teresa de Keersmaeker

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

As gotas de água salgada escorriam pelo teu rosto

 

Marco Rubiero-2As gotas de água salgada escorriam pelo teu rosto. Começando na testa e descendo, lentamente, como que a beijar cada curva, cada saliência dessa face bonita, tranquila...

Dos teus olhos explodiam brilhos de desejo. Como eu nunca tinha visto.

Mais do que todas as outras vezes... Muito mais!

Tinhas o cabelo molhado. Diria que chegavas de uma longa caminhada à chuva.

Mas não, estiveste sempre ali do meu lado.

Eu, tu e uma lua magnifica que iluminava os nossos corpos.

Todos os teus poros transpiravam suor, paixão, loucura e fundiam-se com os meus que clamavam incessantemente por ti.

Fomos uma só, de novo.

Experimentámos, sem tabus, o desejo intenso que guardamos dentro de nós...como um segredo irrevelável, proibido, que se mostra sempre que o destino nos confronta.

Nem sei quanto tempo assim estivemos, juntas, à luz da Lua... Mas lembro-me de sentir a tua pele macia... lembro-me de ouvi-la respirar... transpirar. Lembro-me do cheiro intenso- do nosso cheiro.

Do teu odor que levei comigo, assim como de mim levaste os aromas, os sons, os olhares.

Memórias de um momento de fusão... um momento de corpos suados, molhados...

que se despediram de novo ...talvez, até à próxima Lua Cheia.

Minha Estrela

Imagem de Marco Rubiero

domingo, 4 de novembro de 2012

Eu sou...

                  Steve Hanks-8

Queria contar ao vento o que sinto, mas não sei como descrever...só sei sentir. Sou assim um ser emocional, que vagueia pelo infinito do imaginário, teria muito para contar, mas prefiro guardá-lo no pensamento... reservada, invertida, amiga de quem me acompanha e me mima...incapaz de trair uma amizade verdadeira...encontro na música um porto de abrigo...gosto de mim como sou, aprendi ao longo desta caminhada a encontrar-me e a lutar pelo que gosto e de quem gosto...meiga, interessada em tudo o que me fascina, adoro o céu estrelado, o pôr do sol e o mar...sou como um peixe que adora água, tenho por signo a tendência de gostar da natureza...e de ser muito ligada às raízes...criativa por signo também, não gosto de rotinas, chateiam-me...tenho necessidade de algo diferente todos os dias...gosto de ser assim, e quem dera que consiga voar cada vez mais alto, para me perder no meio do infinito...

Minha Estrela

Imagem de Steve Hanks

"Quão pouco é preciso para ser feliz! O som de uma gaita. - Sem música a vida seria um erro."

"Não me roube a solidão sem antes me oferecer verdadeira companhia."

sábado, 3 de novembro de 2012

Sou tantas

Marci Mcdonald-1

Sou tantas

quando estou

na pele nua

sou tua

A mais entregue

enamorada

de alma pura

me transporto ao etéreo

e me deito

enfeitiçada

Consumado o fato

tato, olfato,

visão de amor

e mais nada

e na travessia de amar

sou encantada

Entre pernas, braços

e carícias tuas

na emoção

sou provocada

Sou mulher

enveredada

por caminhos

de teu corpo

em sobrevoos

sou fêmea alada

Me transporto com

tua língua, molhando as

flores em minhas costas

desenhadas

Em teus olhos

vejo os meus

sou lua renovada

pele a pele

carne a carne

por espaços

fecundada

entre palavras soltas

e a madrugada

Vivo os instantes

e versejamos

quase nada

E nessas horas

não sou poeta

sou profana

e na tua cama

a mais amada…

Adriane Lima

Imagem de Marci Mcdonald

As minhas livres palavras...

Valeriy Kot - 2

Palavras que são alegria
Dentro do meu dia
que são musicais
Feitas de canção
Palavras que são toques
que são fortes
que são corpo
que tem alma e coração
Palavras que me trazem
você para perto
teu jeito incerto
Mas, põe um sorriso
em minhas manhãs
Palavras que são carinhos
feito libertação
Toques de mansinho
Dentro de minha solidão
Paravras que são abstratas
Que são coloridas ou
Pretas igual nanquim
Que voam feito borboletas
Leves e livres em meu jardim
Palavras que são lavras
Chagas abertas na palma da mão
que são fardos,pecados
que são avessos
Adornadas de ouro e purificação
Palavras que são fatais
Que são carnais
Feitas de medo e segredos
De minha espera
em vão
Palavras soltas
Entre meu calendário
Secreto diário
inicio ,meio e fim...
Palavras covardes
Bem mais que metade
que cabem em mim
Palavras sistemas
bem mais que poemas
Palavras que são elos
Boleros que tocarão
enfim...

Adriane Lima

Imagem de Valeriy Kot

O melhor do Amor

                Kay Boyce - 4
Eu que me achava tão dona do meus sentimentos,dizia : apaguei sim, qualquer vestígio que viesse de você.
Guardei os discos,os livros, as flores secas no interior de cadernos e todos ingressos por onde andamos juntos.
Achei que assim poderia apagar marcas, apagar as lembranças do que chamamos amor.
Eu lembro como se fosse hoje o dia que jurei nunca mais deixar meus olhos se "marearem " ao pensar em você.
De tua voz me desliguei,de teu cheiro me lavei...
Que idéia mais infantil essa minha,de amor contado e objeto guardado dentro de nós.
Amor não se mensura,não se apaga,não se afoga em mágoas ou em gestos de bravura.
O amor que nos demos valerá para vida toda,passagem para eternidade de um princípio sem fim.
Ele enriqueceu e nos amaldiçoou,fui dona da maior das posses em vida.
O teu amor!!!
E hoje vejo que era mesmo amor, ele me enaltece até hoje,quando esqueço as amarguras,não me refiro as armadilhas do que pensei ser desamor.
Amor não é prêmio, amor, não é mérito, amor é viver e morrer dos fios que ele teceu.
Dos rastros que ele deixou,da saliva que marcou,os gostos dos beijos trocados,a beleza que iluminou pelo tempo que durou.
Sábio poeta que dizia :"que seja eterno enquanto dure" e o nosso foi.
Hoje me envaideço por entender que era, é ...e será amor...
Não o prêmio perdido ou ganho,mas a vivência concreta de tudo que nos marcou.
E nesse tempo sem te ver,fiz pedidos silênciosos para que a vida cuidadesse de você.
Para que você de mim só guardasse o que de melhor pude te fazer.
Hoje mais madura,vejo com os olhos do coração,sem remorsos ou dores, pode até ser uma analogia infantil,mas meu coração olha por você.
Mesmo longe de sua vida eu pensava,será que ele está feliz, será que dá ainda aquelas gargalhadas altas que dava quando estava comigo e faz alguém sorrir assim também?
Claro que sim, o amor que veio para mim irá ser colocado no caminho de quem souber fazer o que eu não pude.
Mas desejo que a vida te cuide e que possamos sempre viver o amor.
Claro, que hoje um amor diferente,de carinho e compreensão, da busca da felicidade do outro como humano e não como objeto de desejo e paixão.
Amor é mérito, é humano,é desumano mas, quando há amor,há de haver sonhos.
O amor faz silêncio interno,para criarmos a cura em palavras!!!!
Adriane Lima

Imagem de Kay Boyce

“o amor que veio para mim irá ser colocado no caminho de quem souber fazer o que eu não pude.”

Minhas tardes Azuis....

Brodetsky Dmitry

Queria me ver numa
tela pintada
vestida de azul
andando na beira da estrada
orvalho molhando cabelos
silêncio invernal de palavras
Eu,em meio ao nada
de costas na tela e na estrada
ouvindo sonoras corujas
entre arbustos negros
dessa floresta
por mim
pincelada
Tomando minhas rédeas
de tempo e tempestades
pondo cores de
um fim de tarde
igual a vida faz
Novas paisagens
novas vertigens
cabelos ao vento
soltos e displicentes
Eu,estrada,tempo
movimento...
quase on the road
quase on the rock...
Pedras no caminhos
tomariam o espaço
escorregadio feito
um corrimão
bem traçado...
E eu ali
fazendo parte da
história
sendo a dona
de minha liberdade
leve feito um filme de
sessão da tarde...
Adriane Lima

Imagem de Brodetsky Dmitry 

Orgia de palavras

Carrie Vielle -16

Tem noites que eu não durmo nada
a poesia louca
me acorda

em plena madrugada
quer fazer amor comigo,

e eu doida aceito
me solto,me envolvo,

me perco entre suas doces palavras
e em rimas dou risadas,

sinto arrepios,saio do chão
sensação de liberdade,

perversidade de brincar com as palavras
plena madrugada,acabar com o silêncio

que estava no quarto
e nesse ato,me engrandeço,

me envaideço de ser a escolhida por ela
eu e a poesia:amantes, loucas,

gozamos juntas o mel das rimas e
versos soltos no ar
è quase um escárnio,

me vem com força, inevitável...
quando ela me convida, tão instigante,
não sei negar

E para ela sou livre,disposta a me dar a qualquer hora ou lugar
com ela faço filhos são as palavras,as palavrinhas e os palavrões...

Adriane Lima

Imagem de Carrie Vielle

“Youkali, c'est le pays de nos désirs”

“Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos”

Leon Kroll

Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

Vinícius de Moraes

Imagem de Leon Kroll

“Te amo sem saber como, nem quando, nem onde”

Ale amada

Arunas Rutkus -1 

Ale amada,

Não é porque eu fui enganado que não acreditarei mais no amor.

Não é porque alguém foi interesseiro e quis me usar que devo renunciar minha ingenuidade.

Não é porque tentaram me destruir que perderei a suavidade.

Não serão o ódio ou rancor que me farão abandonar a gentileza.

Ale, você não merece me receber pela metade. Não merece pagar os danos que outra causou.

O ceticismo não vai me contagiar. Suspeita não é inteligência, prevenção não é sabedoria.

Não irei desconfiar de você por lealdade ao passado. Traio o passado para ser fiel às nossas palavras.

Nenhuma experiência me ensinou a ser você antes. Estou sendo você agora.

Tangerina. Tangerino.

Não lhe dou chance, dou a minha vida. Chances são esmolas da memória.

Fabrício Carpinejar

Imagem de Arunas Rutkus

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, amo-te simplesmente sem problemas nem orgulho: amo-te assim porque não sei amar de outra maneira. Pablo Neruda

 

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

Pablo Neruda