Ando passos largos
Deixando pela estrada fora
Um desenhar de cada dia da nossa vida!
Gabriela Vitória
Já te li!
Entre a sombra das árvores
que avisto da
minha janela,
em teus murmúrios...
Só silêncio sinto, no respirar de mim!
Gabriela Vitória
É nessas vielas
Que
Minhas raízes estão ao quadrado
Não perco controlo
Caminho
Já passei.
Gabriela Vitória
Pianos resvalam pela encosta do nada!
Vi…
Não senti o teu toque.
Meus lábios rejeitaste
Meu calor enfraqueceu no teu corpo lentamente morreu.
Gabriela Vitória
Bonita
Primeiro foram as mãos que me disseram
que ali havia gente de verdade
depois fugi-te pelo corpo acima
medi-te na boca a intensidade
senti que ali dentro havia um tigre
naquele repouso havia movimento
olhei-te e no sol havia pedras
parámos ambos como se parasse o tempo
parámos ambos como se parasse o tempo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
atrevi-me a mergulhar nos teus cabelos
respirando o espanto que me deras
ali havia força havia fogo
havia a memória que aprenderas
senti no corpo todo um arrepio
senti nas veias um fogo esquecido
percebemos num minuto a vida toda
sem nada te dizer ficaste ali comigo
sem nada te dizer ficaste ali comigo
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
falavas de projectos e futuro
de coisas banais frivolidades
mas quando me sorriste parou tudo
problemas do mundo enormidades
senti que um rio parava e o nevoeiro
vestia nos teus dedos capa e espada
queria tanto que um olhar bastasse
e não fosse no fundo preciso
queria tanto que um olhar bastasse
e não fosse preciso dizer nada
é tão dificil encontrar pessoas assim bonitas
é tão dificil encontrar pessoas assim pessoasPedro Barroso
Eterno
Quero que gostes de Pina Baush, ou até já nem gostes,
queiras mais queiras diferente;
que gostes da cor e do risco forte de Miró
e do canto desiludido e fundo de Ferré;
quero que aprecies os cheiros sensíveis da eternidade
do grande bruto grande e do pequeno sensível e pequeno;
quero que mores nas páginas da Photo e que, sendo um modelo de virtudes
representes a cortesã mais lassa para mim;
quero-te com mãos de pedra e de veludo;
quero que ames o chique e a Serra d'Aire
- mais o safari que a recepção,
quero que mores e sofras nas páginas de Guido Crepax
e que te irrites com a perfeição absoluta de um retrato de Medina
quero que, se possível vivas dentro do anúncio do Martini
felina e ondulante numa ilha tropical
quero que sejas capaz de divertir-te, de soltar uma ampla gargalhada,
ante o espectáculo ridículo e obsceno de um homem de Quinhentos
a quem atribuíssem um número de contribuinte
quero que ames o longe e a miragem, como o Régio
e que sejas louca e sábia
que tenhas lábios e mordas,
língua e sorvas, sexo e sexes, salto e salto, riso e rias,
sorvedouro inteiro de vida, arrepio de garça, sacudir de cisne,
passos de corsa, graça de arlequim,
pose de Diva, corpo de areia e luz.
E quero que me dês, me dês muito, que me dês tudo,
e que abras as janelas de par em par ao Tejo
e fecundes um poema em cada gesto
e voes como a gaivota em cada espreguiçar
e partas para a Índia em cada cacilheiro
e que sejas, mores, vivas e creias
longe
muito longe daqui...
quero que sejas profundamente minha e ritual
obsessiva e lúcida, doente, febril, tremendo de desejo
disposta a tudo e a mais e a muito mais,
boca de Mundo, seios de Mármore, corpo de Alfazema
e sobretudo Mulher e sobretudo amante.
Se existires assim, nua, inteira, absoluta e pessoal
responde-me
que eu fico aqui, eterno, à tua espera.
Pedro Barroso
Rebelde é o meu corpo
quando tua nuca fica febril nos meus lábios
Rebelde são meus pensamentos
imaginando
carinhosamente
quando não estás.
Gabriela Vitória
Esta noite choveu muito
Nas pedras da minha rua
Depois vi nelas a sombra
Que me parecia ser a tua
Esperei que subisses as escadas
Mas teus passos não ouvi
Lá fora nas pedras molhadas
Pareciam chorar chorar por ti
Não pisaste mais as pedras
As pedras da rua
Hoje piso-as sem saber
Se ainda sou tua
Eu e elas não te vemos
Meu amor há mais de um mês
Volta amor volta a pisar
Estas pedras outra vez
O candeeiro da esquina
E até mesmo a luz da lua
Não viram mais tua sombra
Nas pedras da minha rua
Quando chove como hoje
E as pedras estão a brilhar
Eu vejo os meus olhos nelas
Já tão cansados de tanto esperar
Não pisaste mais as pedras
As pedras da rua
Hoje piso-as sem saber
Se ainda sou tua
Eu e elas não te vemos
Meu amor há mais de um mês
Volta amor volta a pisar
Estas pedras outra vez
Eu e elas não te vemos
Meu amor há mais de um mês
Volta amor volta a pisar
Estas pedras outra vez
EDUARDO DAMAS / MANUEL PAIÃO
TALVEZ DIGAS UM DIA O QUE ME QUERES,
TALVEZ NÃO QUEIRAS AFINAL DIZÊ-LO,
TALVEZ PASSES A MÃO NO MEU CABELO,
TALVEZ NÃO PENSE EM TI TALVEZ ME ESPERES.
TALVEZ, SENDO ISTO ASSIM, FOSSE MELHOR
FALHAR-SE O NOSSO ENCONTRO POR UM TRIZ,
TALVEZ NÃO ME AFAGASSES COMO EU QUIS,
TALVEZ NÃO NOS SOUBÉSSEMOS DE COR.
MAS NÃO SEI BEM, RESPOSTAS NÃO MAS DÊS.
VIVO SÓ DE MURMÚRIOS REPETIDOS,
DE ENGANOS DE ALMA E FOME DOS SENTIDOS,
TALVEZ SEJA CRUEL, TALVEZ, TALVEZ.
SE NADA DÁS, PORÉM, NADA TE DOU
NESTE VAIVÉM QUE SEMPRE NOS SUSTENTA,
E SE A PRÓPRIA SAUDADE NOS INVENTA,
NÃO SEI TALVEZ QUEM ÉS MAS SEI QUEM SOU.
VASCO GRAÇA MOURA / MÁRIO PACHECO