terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Gosto quando me falas de ti

Richard S. Johnson

Gosto quando me falas de ti e te vou percorrendo

e vou descortinando a tua vida na paisagem sem nuvens,

cenário dos meus desejos tranquilos.
Gosto quando me falas de ti e então percebo

que antes mesmo de chegar, me adivinhas,

que ninguém te tocou, senão o vento

que não deixa vestígios, e se vai

desfeito em carícias vãs…
Gosto quando me falas de ti quando aos poucos a luz

vasculha todos os cantos de sombra, e eu só te encontro

e te reencontro em teus lábios, apenas pintados,

maduros,

mas nunca mordidos antes da minha audácia.
Gosto quando me falas de ti e muito mais adiantas

em teus olhos descampados, sem emboscadas,

e acenas a tua alma, sem dobras, como um lençol

distendido,
e descortino o teu destino, como um caminho certo, cuja

primeira curva

foi o nosso encontro.
Gosto quando me falas de ti porque percebo que te desnudas

como uma criança, sem maldade,

e que eu cheguei justamente para acordar tua vida

que se desenrola inútil como um novelo

que nos cai no chão…

J.G. de Araújo Jorge




domingo, 10 de dezembro de 2017

Viver é não Saber que se Vive

Ponho-me, às vezes, a olhar para o espelho e a examinar-me, feição por feição: os olhos, a boca, o modelado da fronte, a curva das pálpebras, a linha da face... E esta amálgama grosseira e feia, grotesca e miserável, saberia fazer versos? Ah, não! Existe outra coisa... mas o quê? Afinal, para que pensar? Viver é não saber que se vive. Procurar o sentido da vida, sem mesmo saber se algum sentido tem, é tarefa de poetas e de neurasténicos. Só uma visão de conjunto pode aproximar-se da verdade. Examinar em detalhe é criar novos detalhes. Por debaixo da cor está o desenho firme e só se encontra o que se não procura. Porque me não esqueço eu de viver... para viver?


Florbela Espanca

As Coordenadas Líricas

16443307 - beach, wave and footsteps

Desviou-se o paralelo um quase nada
e tudo escureceu:
era luz disfarçada em madrugada
a luz que me envolveu
A geométrica forma de meus passos
procura um mar redondo.
Levo comigo, dentro dos meus braços,
oculto, todo o mundo.
Sozinha já não vou. Apenas fujo
às negras emboscadas.
Em cada esfera desenho o meu refúgio
— as minhas coordenadas.

Fernanda Botelho

Um Dia

Dunas

Um dia partirei, muito cansada,
com as lembranças cingidas ao meu peito
e uma voz de saudade e de nortada.
(Levarei voz para gemer de espanto.
Levarei mãos para dizer adeus…
Olhos de espelho, e não olhos de pranto,
eu levarei. Os olhos serão meus?
Um dia partirei, talvez manhã.
Uma canção de amor virá das dunas.
De finas pernas, seguirei a margem
límpida, boa, enorme, no ribeiro
de água discreta a reflectir miragem,
braços de ramos, gestos de salgueiro.
Um dia partirei, muito diferente,
Enfim, aquela que jamais eu fora!
E os de cá hão-de achar que vou contente.

Natércia Freire

https://www.youtube.com/watch?v=wwPUriVBEuc

O Quadrado

607080

Título original:

The Square
De:
Ruben Östlund
Com:
Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West, Christopher Læssø
Género:
Comédia Dramática
Outros dados:
SUE/DIN/ALE/FRA, 2017, Cores, 142 min.

Christian é um homem respeitado que trabalha como curador num museu de arte contemporânea. É pai extremoso de duas crianças pequenas, conduz um carro eléctrico e contribui como pode em todas as causas humanitárias. Em suma, é um homem de bem. Profissionalmente, o projecto que tem agora em mãos é "O Quadrado", uma instalação peculiar que convida os visitantes a reflectir sobre altruísmo. Para o ajudar na promoção do evento, Christian conta com o departamento de relações públicas do museu. Mas os eventos que se sucedem acabam por lançar Christian numa crise que fará vir ao de cima uma versão menos "politicamente correcta" de si mesmo…

Palma de Ouro na 70.ª edição do Festival de Cannes, uma comédia negra com assinatura do sueco Ruben Östlund ("Força Maior") e interpretações de Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West e Terry Notary.

https://vimeo.com/235759615

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Gosto de gente honesta

Gosto de gente honesta
Que faz da vida uma festa
Que partilha e se entrega
Que se oferece mas não se verga

Gosto de gente que vive
De gente que me cative
De gente com brilho nos olhos
De gente com alegria aos molhos;

Gosto de gente sem pressa
De gente simples que tropeça
Da que cai e se levanta
De gente que em sofrimento canta

Gosto de gente de todas as cores
De gente que gosta de flores
De gente transigente
De gente assim bem diferente

Gosto de gente com alma cheia
De gente com sangue na veia
De gente que sonha acordada
Que caminha de mão dada

Gosto de gente directa
De pensamento lavado
Com passo lento ou apressado
Que caminha com e sem gente ao lado

Gosto de gente com imaginação
De gente que tenha paixão
De gente que seja ousada
De gente rica ou descamisada

Gosto de gente inteligente
De gente que seja indulgente
De gente que se atira e se mostra
De gente que nunca se prostra

Gosto de gente que olha de frente
De gente que me acalente
De gente que não tem medo
De gente que guarda um segredo

Gosto de gente divertida
De gente que seja atrevida
De gente que seja versada
Gosto de gente com gargalhada
Fernanda Paixão

https://www.youtube.com/watch?v=Gw0rEX8RSPA

Conta Comigo Sempre

Beatriz Milhazes

Conta comigo sempre. Desde a sílaba inicial até à última gota de sangue. Venho do silêncio incerto do poema e sou, umas vezes constelação e outras vezes árvore, tantas vezes equilíbrio, outras tantas tempestade. A nossa memória é um mistério, recordo-me de uma música maravilhosa que nunca ouvi, na qual consigo distinguir com clareza as flautas, os violinos, o oboé.
O sonho é, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que mastigam o pão amadurecido da dúvida e a carne deslumbrada das pupilas. Estou entre vazios e plenitudes, encho as mãos com uma fragilidade que é um pássaro sábio e distraído que se aninha no coração e se alimenta de amor, esse amor acima do desejo, bem acima do sofrimento.
Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas, ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, contigo repartirei também a minha fome mas, e sobretudo, repartirei até o que é indivisível. Tu sabes onde estou.
Sabes como me chamo. Estarei presente quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a hora decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua antiga coragem vacilar. Caminharei a teu lado. Haverá, decerto, algumas flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol limpo que interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar, entre as respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer, as mais sábias e as mais livres.
Conta comigo. Sempre.


Joaquim Pessoa

Imagem de Beatriz Milhazes

https://www.youtube.com/watch?time_continue=3&v=ItXta_kXuxY

domingo, 3 de dezembro de 2017

Estava ansiosa que chegasse a hora...

Estava ansiosa que chegasse a hora...
Para ir ter Contigo ao refúgio silencioso
No abrigo iluminado por Ti, onde Te sei
Acendes um rastilho de esperança em mim.
E nesse silêncio bebo da fonte de paz e quietude
Que Resplandeces em toda a Tua Glória
Onde me acalento e respiro da Tua presença
E sinto, a Tua mão na minha, o Teu afago…
Tenho frio…
Fecho os olhos, quero chegar a Ti…
Sinto-Te, nos poros da música sacra que toca em mim
E assim permaneço… neste estado silencioso, onde te absorvo.
Já é tarde, tenho que voltar…
Saio. Cá fora o mundo continua a correr
A luz da cidade encandeia-me. Será o sol ou a falta de humildade?


Cecília Vilas Boas

https://www.youtube.com/watch?v=34f7y4tucoc 

Gabriela Vitória

Sempre amei por palavras muito mais
do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero

Alice Vieira

domingo, 26 de novembro de 2017

Nota

Deixei contigo o meu amor,
música de açúcar a meio da tarde,
um botão de vestido por apertar,
e o da vida por desapertar,
a flor que secou nas páginas de um livro,
tantas palavras por dizer
e a pressa de chegar,
com o azul do céu à saída.
por entre cafés fechados e um por abrir.

Mas trouxe comigo o teu amor,
os murmúrios que o dizem quando os lembro,
a surpresa de um brilho no olhar,
brinco perdido em secreto campo,
o remorso de partir ao chegar,
e tudo descobrir de cada vez,
mesmo que seja igual ao que vês
neste caminho por encontrar
em que só tu me consegues guiar.

Por isso tenho tudo o que preciso
mesmo que nada nos seja dado;
e basta-me lembrar o teu sorriso
para te sentir ao meu lado.

Nuno Júdice



segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A VOZ QUE NOS RASGOU POR DENTRO


PLANETA

De onde vem - a voz que
nos rasgou por dentro, que
trouxe consigo a chuva negra
do outono, que fugiu por
entre névoas e campos
devorados pela erva?
Esteve aqui — aqui dentro
de nós, como se sempre aqui
tivesse estado; e não a
ouvimos, como se não nos
falasse desde sempre,
aqui, dentro de nós.
E agora que a queremos ouvir,
como se a tivéssemos re-
conhecido outrora, onde está? A voz
que dança de noite, no inverno,
sem luz nem eco, enquanto
segura pela mão o fio
obscuro do horizonte.
Diz: "Não chores o que te espera,
nem desças já pela margem
do rio derradeiro. Respira,
numa breve inspiração, o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos."
Como se a ouvíssemos.


Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"

Quero dizer-te uma coisa simples



















Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
Ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
Magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
Por isso, de deixar alguns sinais — um peso
Nos olhos, no lugar da tua imagem, e
Um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
Tivessem roubado o tacto. São estas as formas
Do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
As coisas simples também podem ser complicadas,
Quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a
Realidade aproxima-me de ti, agora que
Os dias correm mais depressa, e as palavras
Ficam presas numa refração de instantes,
Quando a tua voz me chama de dentro de
Mim — e me faz responder-te uma coisa simples,
Como dizer que a tua ausência me dói.

NUNO JÚDICE

domingo, 12 de novembro de 2017

Comigo caminham todos os mortos que amei

"... E de novo acredito que nada do que é importante se
perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas,dos
instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os
amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não
perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para" 

sempre."

Miguel Sousa Tavares

sábado, 11 de novembro de 2017

A Rapariga Que Roubava Livros

A Menina que Roubava Livros

Sinopse: O novo romance de Markus Zusak decorre durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha e conta-nos a história de Liesel Meminger, uma rapariga adoptada que vive nos arredores de Munique. Liesel cria um sentido para a sua vida roubando algo a que não consegue resistir - livros. Com a ajuda do seu pai adoptivo que toca acordeão, Liesel aprende a ler e, durante os bombardeamentos, compartilha os livros roubados com os seus vizinhos e com o judeu escondido na sua cave, antes de este ser deslocado para Dachau.

https://www.bing.com/videos/search?q=a+rapariga+que+roba+livros&&view=detail&mid=81F22F9C71E02DB1CE7781F22F9C71E02DB1CE77&FORM=VRDGAR

sábado, 4 de novembro de 2017

Para Viver um Grande Amor

Coração
É preciso abrir todas as portas que fecham o coração.
Quebrar barreiras construídas ao longo do tempo,
Por amores do passado que foram em vão
É preciso muita renúncia em ser e mudança no pensar.
É preciso não esquecer que ninguém vem perfeito para nós!
É preciso ver o outro com os olhos da alma e se deixar cativar!
É preciso renunciar ao que não agrada ao seu amor...
Para que se moldem um ao outro como se molda uma escultura,
Aparando as arestas que podem machucar.
É como lapidar um diamante bruto...para fazê-lo brilhar!
E quando decidir que chegou a sua hora de amar,
Lembre-se que é preciso haver identificação de almas!
De gostos, de gestos, de pele...
No modo de sentir e de pensar!
É preciso ver a luz iluminar a aura,
Dando uma chance para que o amor te encontre
Na suavidade morna de uma noite calma...
É preciso se entregar de corpo e alma!
É preciso ter dentro do coração um sonho
Que se acalenta no desejo de: amar e ser amada!
É preciso conhecer no outro o ser tão procurado!
É preciso conquistar e se deixar seduzir...
Entrar no jogo da sedução e deixar fluir!
Amar com emoção para se saber sentir
A sensação do momento em que o amor te devora!
E quando você estiver vivendo no clímax dessa paixão,
Que sinta que essa foi a melhor de suas escolhas!
Que foi seu grande desafio... e o passo mais acertado
De todos os caminhos de sua vida trilhados!
Mas se assim não for...
Que nunca te arrependas pelo amor dado!
Faz parte da vida arriscar-se por um sonho...
Porque se não fosse assim, nunca teríamos sonhado!
Mas, antes de tudo, que você saiba que tem aliado.
Ele se chama TEMPO... seu melhor amigo.
Só ele pode dar todas as certezas do amanhã...
A certeza que... realmente você amou.
A certeza que... realmente você foi amada.

Carlos Drummond de Andrade

Ana Galvão

sem nome
Nasceu em Nova Lisboa, Angola.
Licenciada em Direito. Curso de Calcografia e Xilogravura (iniciação e especialização) com David de Almeida (Lisboa, 1982-85) no Atelier Experimental da Galeria Quadrum. Gravura em Pedra com H. Marçal (1986) e Dacos (1987), na Cooperativa “Gravura”. Processos de Mixed Media com Calado (1991). Processos de Impressão a Cor “Chine Cole” (2008) com Jorge de Sousa.
Editada pela “Gravura”. Editada pelo Centro Português de Serigrafia e Gravura. Editada pela Áster. Registo fílmico feito no Atelier da artista por A. Queiroz (2007), Cinemateca Portuguesa – ANIM – Arquivo Nacional Imagens Movimento. Seleccionada para os “100 Anos/100 Artistas” – Centenário da S.N.B.A. Artista convidada para “50 Anos de Gravura em Portugal”.
Sócia efectiva da S.N.B.A. e membro dos corpos gerentes. Sócia efectiva da “Água-Forte” e da “Aster”.